Cortina de algoritmos

algoristmo ativismo

As novas tecnologias de comunicação e da informação têm mudado o caráter de ação dos movimentos sociais como um todo desde o bum da internet ainda nos anos de 1990. As NTICs(Novas Tecnologias da Informação e das Comunicações) não somente atribuíram mudanças aos movimentos ativistas, mas, de modo geral, também revolucionaram toda a forma de comunicação institucional e de comunidades que agora usam os territórios digitais como espaço de deliberação de seus pensamentos e sua doutrina.

Hoje, então, a internet se expressa como espaço democrático, onde as discussões ocorrem de forma livre e vasta, como aponta o teórico LangMan(2005). Em contraponto a isso, o autor aponta uma descentralização desses espaços, o que acarreta num relativo descontrole desses atores da militância no ciberespaço. Esse descontrole pode ser sentido, atualmente, numa onda de radicalismo e extremos, discussões que não levam a consenso algum e clima de destemperança nas redes.

Segundo o sociólogo Vinicius Wu, em artigo publicado no site Sul21, há um clima de “paixão e convicção” na rede. Ali, ele reflete, formam-se conglomerados opinativos incongruentes, nos quais o diálogo entre em escassez e o consenso não se estabelece. A prevalecência do contraditório não acontece, o que impede que haja um debate. Esse radicalismo por parte dos movimentos sociais na internet acaba gerando um efeito colateral que ainda é pouco conhecido, mas que vem sendo estudado e analisado: A ação dos algoritmos na seleção de conteúdo oferecido a cada usuário a partir de rastros digitais e modelação de um perfil identitário/psicológico destes usuários.

 

Algoritmos atuando como editores de conteúdo na rede

algoritmo_shutterstock_header-1119x653.jpg

Uma miríade de informação é gerada a cada hora na internet. Estima-se que 2,5 quintilhões de bytes de informação circulem por dia na internet. Equacionando essa carga de informação ao tempo que os usuários têm para consumí-las, nota-se que é impossível sorver e absorver toda essa informação diária. A desculpa para a atuação dos algoritmos como fator de seleção customizada de informação para os usuários é alegação de que os mesmo não gozam de tempo para tanto volume de informação, o que leva a função algorítmica a selecionar conteúdo sob medida para cada indivíduo.

Sendo assim, a ideia de um filtro/válvula digital que possa indicar um determinado conteúdo a cada usuário traz consigo uma problemática: esse conteúdo acaba oferecendo uma variedade ínfima de informações a cada indivíduo. Isso, atrelado à falta de tempo de cada usuário, ceifa dele a possibilidade de argumentação sobre as discussões vigentes na sociedade e, segundo Vinicius, esse atores acabam por ser “especialistas em seu próprio discurso”.

Essa escassez de variedade de conteúdo gera um efeito nos usuários da rede similar ao efeito gerado pelo espectador de TV. Ou seja, atores passivos num processo deliberativo, que somente repetem um discurso pré-pronto e não dominam uma síntese sobre os pontos tangíveis de cada bandeira das quais levanta. Além disso, os ânimos ficam acirrados em função dessa desinformação e perda de perspectiva da ideia contrastante que converge em cada debate na rede. Muitos usuários se escondem em um imperativo de visibilidade social e de lá emitem o máximo do seu ódio, aproveitando do espaço não físico para vertê-los num campo de batalha.

Essa animosidade escusa pelas mídias digitais torna o processo de deliberação no âmbito digital algo extremamente doloroso e repleto de conflitos. A função algorítmica acaba sendo mediadora dos interesses despolitizantes de um sistema que busca alienar os seres e assim, torná-los mais facilmente massa de manobra de um processo hegemônico liderado pela grande mídia, que vê a informação(?) como uma commodity altamente lucrativa e narcotizante.

 

 

Fakenews, jornalismo e ativismo em ano de eleição

 

fake-news

Em 2018 se acirra uma verdadeira batalha jurídica, política e eleitoral no Brasil. Com toda a cultura digital presente na vida quotidiana, a emissão de dados e informações por parte de impressa independente é a grande preocupação de grupos políticos, pois, a mesma não está mais concentrada nas grandes agências e nem nos meio de comunicação de massa. A internet é um meio que propicia a produção de informação por parte de quaisquer indivíduos que estejam conectados em rede, ou pelos portais de informação independentes – às vezes anônimos -, o que gera um efeito colateral muito perigoso a uma sociedade que lê informações de forma errada, sem checagem e com passionalidade – a fakenews(notícias falsas).

No Brasil há uma junta formada pela Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado(Dicor) da Polícia Federal, que pretende criar uma força tarefa para criminalizar as fakenews. Jornalistas e ativista fazem uma crítica à essa movimentação da PF, colocando que o intuito é de censurar mídias alternativas, o que afeta diretamente movimentos sociais e partidos políticos que vem usando plataformas como blogs, twitter e outras ferramentas de comunicação para distribuir informações.

Antes, com o monopólio dos meios competentes em produção e emissão de notícias, havia um controle(curadoria) de dados no intuito de preservar ao máximo a fidedignidade dos fatos a serem noticiados à população votante. Mas isso não eximia a notícia oferecida de sofrer distorções involuntárias, podendo existir uma versão extraoficial daquele mesmo fato, como cita Mauro Wolf no livro de teoria geral da comunicação. Para além disto, de certa forma, o tratamento de determinadas notícias podia trazer variações no entendimento de determinados leitores, que reconstroem a informação para poder sintetizá-las.

Outro fenômeno danoso que vem no vácuo de noticias falsas é o post truth(pós-verdade). A pós-verdade funciona de forma silogista e passional, embasada no dogma e no preconceito, com a negação dos fatos. Isso gera uma onda de distorção de fatos que acontecem na sociedade, desde um âmbito doméstico, até uma esfera maior, como a política. Para Maria Lúcia Santaella há um tipo de leitor, o leitor imersivo ou virtual. Esse tipo de leitor tem a característica de montar o conteúdo que lê, somando de parte em parte um determinado discurso que lhe traga significado.

 

trump_cnn-debate.jpg

A fakenews entrou em pauta nas discussões sobre democracia e comunicação de massa após o então candidato às eleições presidenciais americanas, Donald Trump, utilizar de notícias enviesadas para instaurar climas de incerteza e indecisão no eleitorado estadunidense, para por fim, ganhar as eleição. Notícias falsa lançadas na rede tem alto poder de disseminação pois o sistemas de algoritmos executam uma espécie de curadoria da relevância dessas notícias, fazendo com que as mesmas circulem sem limites pela web, como afirmam em texto as pesquisadoras Saad Corrêa e Bertocchi. A empresa Google já se pronunciou sobre o tema e tem tomado medidas de bloqueios de sites em seus feeds de pesquisa.

O idealizador e presidente do facebook, Mark Zurckerberg, postou em sua página pessoal um comunicado sobre a qualidade dos post, afirmando que o sistema iria priorizar posts que motivassem a interação dos usuários em grupos de amigos e familia. Muitos criticaram a mensagem de Zurckerberg, analisando a ação como uma “despolitização” da ferramenta. O FB e seus algoritmos analisam a relevância dos posts baseado em curtidas e comentários, e os espaços para notícias notícias no feed de cada usuários acaba por ser limitado. Pesquisas revelam que os usuários da internet, como um todo, dão mais atenção às redes sociais do que à imprensa, ou seja: Tirando impressa do FB a exposição de informações que podem estar alteradas é mais um problema de curadoria

 

Fakeativismo

Nem mesmo a deontologia do ser ativista escapou à contaminação de fakenews que se espalhou pela internet. Um caso incomum de ultilização de falsas notícias associado ao ciberativismo foi protgonizado pelo Jonatan Diniz, fundador da ONG Time to Change The Earth. Jonatan morava em L.A e viajou em missão humanitátia à Venezuela com o intuito de amenizar os efeitos totalitaristas do governo Maduro sobre a infância e juventudo do País.

Fazendo campanhas para a arrecadação de fundos que serviriam para compra de brinquedos para essas crianças, Jonatan criou perfis falsos na rede que enganou usuários e instituições, sendo pego pelo governo venezuelano e, após 11 dias preso, o brasileiro foi deportado aos Estados Unidos, onde residia.

freedom for jonatan.jpg

O inusitado, é que a repercussão desse insidente diplomático gerou uma movimentação de representantes da direita brasileira como o MBL que chegou a lançar uma hashtag #freedomforjonatan, além da jurista Janaína Paschoal, que clamou pelos direitos humanos no twitter, exemplificando o mecanismo da pós-verdade e como a direita é suscetível a essa realidade.

 

 

 

A ingressão da mídia locativa nas lutas do ciberativismo

locative media

Em seu artigo: “Mídia Locativa e Territórios Informacionais”, o pesquisador André Lemos determina a mídia locativa como um conjunto de tecnologias e processos info-comunicacionais cujo conteúdo informacional vincula-se a um lugar específico. Então, na era informacional ao qual vivenciamos, com o advento de artefatos digitais que não necessitam de fio como o smartphone, tal conceito está inserido amplamente na sociedade.

Nos dias atuais, o uso do smartphone tornou-se tão comum a ponto de algumas pessoas não conseguirem ao menos permanecer o período de dois dias sem o aparelho em mãos. Levando isso em conta, uma imensa massa social vive inclusa no fenômeno de mídia locativa, e não apenas pelo telefone celular, como também qualquer outro artefato capaz de emitir informações a partir de uma localidade. Exemplos são variados: GPS, computadores com acesso à rede wifi, aparelhos diversos que fazem uso de Bluetooth, e assim por diante.

midia.png

Apesar de tudo, é importante ressaltar que há uma divergência entre dois tipos de mídias locativas: a digital e a analógica. Os exemplos já mencionados tratam-se da mídia locativa digital, aquela em que os dados informacionais funcionam em tempo real, diferente da mídia locativa analógica, cujo a informação é estática, sem que haja um efeito retroativo, ou feedback.

É com a mídia locativa digital que os movimentos ativistas enxergaram maneiras de agregar suas lutas através das plataformas, sendo em sua maioria com uso da geolocalização, como num aplicativo nomeado GPSGAY. Através do uso do GPS do celular do indivíduo que efetuou a instalação do app, é criado um espaço de enfrentamento à homofobia, e também as outras fobias englobadas nas diferentes vertentes da sigla LGBTQ+.

20150401181459_660_420

O aplicativo funciona como uma espécie de plataforma que reúne diferentes redes sociais, e por meio da localização de outros usuários cadastrados, é possível fazer a busca de pessoas da comunidade gay as quais possuem os mesmos interesses em comum, tais informações filtradas dos dados encontrados nas redes cadastradas.

Porém além disso, o aplicativo tem um grande ênfase no combate ao preconceito, e para tal luta ativista, é oferecido um espaço onde os usuários podem efetuar denúncias nas localidades em que eles sofreram qualquer tipo de ato homofóbico, evitando de outras pessoas pertencentes ao LGBTQ+ acabarem sofrendo o mesmo, pois assim cria-se a possibilidade de evitar regiões com grande índice de ações preconceituosas, ou até mesmo combatê-las.

gpsgay

Existe também, no aplicativo, um mapa colaborativo onde é demonstrado as ONGs de sociabilidade gay e entidades de defesa dos direitos humanos, para que as pessoas que passarem por algum caso de discriminação, estejam capacitadas a procurar por ajuda. Esses são meios interessantes do uso de mídia locativa para a luta da comunidade gay.

Numa forma idealizada de combater estabelecimentos que ocorrem casos discriminatórios registrados no aplicativo, seus usuários estão reunindo-se para fazer queixas diretamente nas páginas dos locais registrados no mapa, alterando assim a avaliação destes locais, e por consequência diminuindo o número de pessoas que os frequentam. Claro que essa estratégia abre possibilidades de falsas denúncias com o intuito de difamar certo estabelecimento, mas isso vale da ética do usuário.

Por fim, este é somente um exemplo de muitos de como o ativismo utilizou da mídia locativa digital para que movimentos ciberativistas tornem-se mais efetivos. Apesar dos problemas claros com a troca de informação que fornece dados cada vez mais específicos sobre o individuo e o ambiente ao redor, facilmente utilizável para vigilância da vida privada, existe também na mídia locativa potencial para ajuda. É com plataformas como a citada no texto, que o auxílio efetuasse nas lutas diárias, dependendo sempre do apoio dos envolvidos para resultados cada vez mais eficientes.

“Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para que o melhor fosse feito.”, palavras do célebre ativista Martin Luther King. Então, que continuemos lutando por um futuro melhor.

Ciberativismo e vigilância digital

A questão de segurança e vigilância anda latente nas discussões sobre privacidade do indivíduo e manipulação de mercadorias cujo comprador dá informações de si a cada visita em site de ofertas ou a cada compra realizada por meio da internet. Com a eclosão de uma cultura de convergência cada vez mais dinâmica, na qual dados pessoais podem se tornar algo bastante valioso para empresas que querem conhecer cada vez mais o perfil de seus usuários, a análise desse comportamento midiático é necessária.

Antes a questão de vigilância concatenava os dispositivos de controle à posteriore, de efeito remediável, com medidas punitivas e sanatórias.

Há a ideia de uma perspectiva de controle dinâmico, em que seja possível orientar a conduta e o discurso de determinado sujeito através de produtos a serem consumidos, tornando-o balizado socialmente e psicologicamente adaptado, introjetando em si símbolos de comportamento por meio de consumo. Essa ideia de midiatização é proposta por Muniz Sodré, semioticista marxista, que crê que seja inexorável, atualmente, deslocar as mídias de comunicação do controle das massas e do consumo de símbolos.

O ciberativismo tenta fugir dessa plataforma de controle das massa por meio de uma contra cultura digital, que percorre caminhos mais profundos da web, dos quais a publicidade é pouca ou quase nenhuma devido ao nicho específico que acessa a essa rede.

O vazamento de documentos e dados importante por meio de empresas que transitam na contra cultura, como Wikileaks, também reforça o ímpeto de lutar contra o mecanismo de controle adotado por empresas e por Estados, que tentam formatar um padrão de sociedade em prol de terem mais sucesso com os seus mecanismos de controle.

big_data_is_watching_by_carl9180-d5lg32i

BigData

O modelo de panóptico,  como sugeriu o filósofo Foucault, no qual uma estrutura invisível vigia e, nessa dinâmica, sem a noção exata de vigilância efetiva, os próprios indivíduos passam a ser agentes de censura, é um modelo que mais tarde, Deleuze vai além e passa a refletir sobre uma vigilância digital, que avalia e cruza dados individuais, criando perfil sólidos a partir do consumo realizado por usuários.

Os algorítmos também têm papel fundamental para a formatação de um consumo controlado ou um controle consumido, pois essa inteligência artificial acaba retornando ao usuário o reflexo de seu padrão de consumo, suas preferências, seus devires, fazendo com que cada tipo de oferta de compra ou sentido de realidade propagados na rede, seja especificamente pensado sob medida para aquele determinado usuário, aparentando um mecanismo de controle à priore, no qual mercadorias e símbolos, sob medida, são oferecidos a usuários em momentos oportunos.

 

 

 

Hacktivismo

anonymous

Se todo hackitivista é um ciberativista nem todo ciberativista é um hacktivista.
Os ciberativistas se utilizam das mídias e redes sociais para defender as mais variadas causas políticas, sociais, culturais e ambientais por meio de petições, manifestos artísticos, campanhas publicitárias. Já os hacktivistas promovem expressão política, liberdade de expressão, direitos humanos, por meio de manipulação de códigos fonte de softwares, já que o software possibilita a sociedade da informação global, poucas pessoas podem escrever código, mas o código afeta muitas pessoas. A definição original de hacker era a de “um programador de computador talentoso que poderia resolver qualquer problema muito rapidamente, de modo inovador e utilizando meios não convencionais”, para Alexandra Whitney Samuel o hacktivismo é “o uso não violento, legal ou ilegal, de ferramentas digitais para perseguir finalidades políticas”.

Um exemplo recente de hacktivismo ocorreu nos Estados Unidos, o Anonymous  invadiu a base de dados da Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) e liberou  dados pessoais do presidente da comissão Ajit Pai no Pastebin depois da FCC revogar as medidas estabelecidas em 2015 que garantiam o princípio da neutralidade da Rede e regiam as regras de navegação na Rede desde seu nascimento. O hack foi feito pelo Intel Intel Sec, um segmento do Anonymous na Europa como parte da ação no Facebook #OpNetNeutrality, #OpDefendTheNet, expondo dados pessoais, como e-mail, endereço e telefone de Ajit Pai e seus familiares bem como membros da FCC.

“A neutralidade da Rede garantia a competitividade darwinista entre todos os possíveis usos da Internet de forma a sobreviverem os melhores” afirmou o professor Tim Wu, da Universidade de Colúmbia (EUA), que criou as normas. O  fim da neutralidade na Rede acaba com entendimento da rede como um “bem público”, onde os provedores devem tratar todos os dados de maneira igual. Dessa forma as empresas poderão impor suas normas para o acesso a alguns conteúdos, impor um sistema que permite diferentes velocidades em função do pagamento e dos interesses das operadoras,  poderão acabar com a igualdade de acesso a conteúdos e então haverá serviços de primeira e de segunda classe,  abrindo uma brecha entre a Internet dos ricos e a dos pobres, e transformando em privilégio o acesso a serviços de empresas de telecomunicações cada vez mais criadoras de conteúdo, como Netflix e Movistar,  o que acaba com o conceito de internet livre e aberta.

Anonymous é um comunidade online descentralizada, atuando de forma anônima, de maneira coordenada, geralmente em torno de um objetivo livremente combinado entre si e voltado principalmente a favor dos direitos do povo perante seus governantes. “Ações creditadas ao Anonymous são realizadas por indivíduos não identificados que atribuem o rótulo de “anônimos” a si mesmos.” (Shaun Davies) Uma de suas autodefinições é “Nós somos Anonymous. Somos uma legião. Nós não esquecemos. Nós não perdoamos. Esperem por nós.”

As informações foram vazadas no Pastebin um serviço de “Recorte e Cole” que garante que uma informação ou manifestação seja divulgada sem qualquer indício da fonte, em tais serviços, o usuário não precisa se logar ou oferece o mínimo de informações possíveis e já pode colar informações (compartilhar textos) sem se preocupar com cadastros, fornecimento de e-mails, metadados e outros detalhes que podem fazer com que sua autoria seja revelada.

Selfie e direito dos animais: Entenda o inusitado caso vivido entre humanos e macacos da espécie Nigra

foto macaco

Em 2014 o mundo tomou conhecimento de um caso realmente inusitado: Trata-se de uma selfie tirada 2011, na Indonésia, e que viralizou na internet. O inusitado, deveras, é que a autoria da selfie foi atribuída a uma espécie chamada “Macaco Nigra” em vez do fotógrafo, David Slater. Organizações de direitos animais quiseram reverter a renda com a publicização, obtida pelo fotógrafo, para fundos de proteção a animais. A ação foi levada pela PETA(Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais) ao Tribunal de San Francisco.

Em 2011 o fotógrafo David Slater acampou por alguns dias na ilha de Bornéu, Indonésia,  onde pretendia fazer registros fotográficos da espécie Nigra. Durante o tempo em que ficou na floresta tentando capturar fotos dessa espécie, David teve a ideia de deixar seu equipamento em modo automático e através de exemplos visuais, o fotógrafo conseguiu com que os macacos tirassem eles mesmos as fotos. Essas fotos viralizaram pela rede e foi aí que David tentou entrar com uma petição de direitos sobre as fotos. O caso chegou ao conhecimento de organizações de proteção a animais e a justiça foi acionada.

foto macaco

A partir daí, em 2015, uma luta pelos direitos de integridade dos animais foi travada, e a PETA moveu uma ação contra David por ele violar a integridade desses primatas e pediu como indenização os copyrights da foto. O fotógrafo se defendeu alegando que todo o trabalho com equipamento, regulagem das funções automáticas da câmera e tentativas de comunicação com os Nigra foram feitas por ele e isso lhe garantia o direito das fotos.

Além disso, David também diz que ficou em companhia de alguns filhotes dos macacos enquanto esteve na floresta: “Permaneci deitado o tempo todo com pelo menos dois filhotes de macaco em cima de mim e ainda tive de me recuperar de algumas feridas causadas por um macho que me atacou várias vezes pois acreditava que eu era um rival”, como traz em nota o site BBC.

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150926_selfie_macaco_polemica_lgb

O processo se arrastou até 2016 e o fotógrafo chegou à bancarrota sem ter como pagar por advogados. David até a perdeu uma audiência judicial por não conseguir pagar pelas passagens até o local da audiência. David perdeu em 1ª instância mas conseguira enfim um recurso que levou o litígio a um acordo entre as partes: “A Peta e David Slater concordaram que esse caso levanta questões importantes e inovadoras sobre expandir os direitos legais para animais não humanos, um objetivo que ambos apoiam e que vão manter em seus respectivos trabalhos para que seja atingido”, como consta em comunicado conjunto entre as partes.

Esse foi um exemplo da cultura de convergência na qual a atualidade se expressa. Meios interagindo com outra espécies que não a nossa, humana. Royalties e direito de autoria sendo questionados entre humanos e Nigras. A partir desse caso, doravante, a jurisprudência pode ter precedente legal para julgar casos de direito entre homens e outros reinos animais.

https://g1.globo.com/mundo/noticia/disputa-em-torno-de-selfie-de-macaco-chega-ao-fim.ghtml

Saiba como ser um protetor do direitos dos animais 

https://pt.wikihow.com/Ser-um-Ativista-dos-Direitos-dos-Animais

 

 

 

 

 

Jornadas de Junho e as redes sociais

 

“Não são só 20 centavos”, diziam os manifestantes na avenida Paulista, em 19 de junho de 2013, referindo-se ao aumento na tarifa de ônibus. Esta mobilização, que movimentou um grupo de aproximadamente mil pessoas, fora o engate para algo maior, assim iniciando-se uma onda de protestos em todo o país que ficara conhecido internacionalmente devido as proporções que tomou. Então, a partir do aumento do preço da passagem de ônibus, nasceu no Brasil uma grandiosa manifestação contra a má qualidade dos serviços governamentais e a corrupção política.

00000-foto-maes-de-maio

 

Assim como mencionado anteriormente, tais mobilizações tiveram início em São Paulo, onde o grupo conhecido como Movimento Passe Livre, responsável pela luta da tarifa zero no transporte coletivo, organizou os protestos através do uso das redes sociais. Pelas relações mediadas a partir do computador, tal grupo aproveitou-se da fácil conexão entre os atores, proporcionada pelo alcance intensificado das redes, onde a interação social rompe a necessidade de estadia física, conectando as pessoas através da interação social no ciberespaço.

Esse meio de mobilização, conhecido como ciberativismo, o ativismo mediado através da internet, realizou-se principalmente pelas populares redes Facebook e Twitter, onde cria-se a alternativa da comunicação tradicional em massa. Além disso, um movimento pelo viés da internet abre possibilidades diversas de envolvimento, pois seus indivíduos necessitam de apenas o acesso à própria internet. É uma nova maneira de conceder voz às pessoas, assim aumentando o número de indivíduos envolvidos com interações ativistas.

1498678456_backgroundredessociaispng_N.png

Então, nas redes sociais, é onde ocorre em demasia o ciberativismo. A eficiências de resposta, podendo ocorrer quase que de imediato, independentemente do local ao qual o sujeito encontra-se fisicamente, é o fundamento desta preponderância. Recuero (2009, p.36) aponta a capacidade de migração como fator característico da interação através do computador, ou seja, a facilidade de migração entre ambas as plataformas já mencionadas, ajudou na interação social entre os envolvidos nas manifestações.

Nas manifestações que se decorreram no ano de 2013, as redes sociais foram o principal meio de debate, onde as pessoas emitiam suas opiniões sem a repressão do governo, como acontecia quando estes mesmos indivíduos partiam para as ruas na busca de reivindicar seus direitos. Assim como na “Revolta do Busão”, movimento já mencionando num post anterior deste mesmo blog, o povo reuniu-se ativamente na web, mobilizando pessoas a saírem de suas casas para os protestos. Esses trataram-se de movimentos mistos, entrelaçados pela rede e luta física. De certa forma, qualquer um destes não haveria o mesmo impacto que teve sem o outro.

manifestações-protesto-brasil-saímos-do-facebook-feat.jpg

Além de mobilizar, reunir, e organizar os protestos, as redes sociais também serviram de alternativa à mídia televisionada. Nos vídeos publicados pelos próprios protestantes, as pessoas ficavam diante de uma realidade sem cortes ou censura, como comumente ocorria nas notícias veiculadas pela televisão. Os depoimentos de indivíduos comuns, como um amadorismo do próprio jornalismo, criaram empatia e distanciaram grande parte das pessoas àquilo que antes consideravam confiável, ou seja, das grandes mídias em massa.

Podemos utilizar do Twitter como um exemplo desse jornalismo amador exercido através da internet. Pela maneira com que funciona esta rede, as informações daquilo que ocorria eram divulgadas em tempo real. Tudo que ocorria, aquilo que era presenciado pelos manifestantes, surgia na rede de modo instantâneo, e de junto as hashtags que alcançavam o chamado trend-topics, os dados propagavam-se com facilidade, ajudando envolvidos até mesmo a evitarem repressões perigosas em algumas das variadas manifestações.

1200px-ABr17062013JFC2558.jpg

Enfim, como fala Silveira em artigo publicado em 2010 “O ciberativismo se confunde com a própria expansão da rede mundial de computadores. Ele influenciou decisivamente grande parte da dinâmica e das definições sobre os principais protocolos de comunicação utilizados na conformação da Internet”. As redes sociais, além de espalhar a informação com eficiência e rapidez, serviram ao proposito maior de manifestar o ativismo que em tempos passados era visto apenas nos protestos organizados nas ruas. Agora, com o advento do ciberativismo, por meio da conectividade das redes sociais, o poder de mudança das lutas sociais tornou-se maior e ainda mais eficiente. Através dos discursos emitidos, a interação mútua do laço dialógico, os movimentos tomaram força e foram democratizados a todo o público com acesso a internet.

Cultura de convergência e ativismo transmídia

Disputas pelos espaços, sendo estes público ou privado, fazem parte da história do Homem desde épocas priscas. Como vê-se, na mitologia grega até era um desígnio dos deuses guardar por esses meios, sendo Hermes responsável pela instância pública(a comunicação, o entendimento) e Hestia comprometida no zelo daquilo que é localizado(a privacidade, as crenças). Essa lógica de gerência do que é público vs. privado sofre, cada vez mais, rupturas causadas pelas novas tecnologias comunicacionais e pela própria produção de cultura atual, que depende intrinsecamente dos dispositivos de comunicação atuais.

Na era digital, com o funcionamento dos fluxos de informação acontecendo em plataforma de rede, quase que de forma instantânea, a cultura de convergência também é útil para quem defende seu espaço, seu lugar de fala. Com a possibilidade de criação, compartilhamento, consumo e feedback de novas narrativas e com a desterritorialização dessas trocas, por meio dos dados móveis, comunidades se encontram e interagem(Gregolin, M.).

Em artigo publicado na Revista Gemini, Gregolin fala sobre o termo de ativismo transmídia, cunhado pelo pesquisadora Lina Srivastava, e discorre sobre como, a partir do approach tecnológico atual, pequenos grupos com suas causas alcançaram grande visibilidade e até, conseguiram se emancipar da esfera privada do canal de comunicação à esfera pública, como numa contra diáspora digital, que de certa forma religa o indivíduo e reconfigura o social.

 

Insta que, como Castells argumenta, cada grupo desses produz seu próprio sistema de códigos na rede, e, também, acabam interagindo e/ou dialogando com outros códigos. Na cultura de convergência, não somente um mesmo dispositivo comunicacional realiza múltiplas funções, e para além, através dele, produzem-se novas abordagens de laços com os conteúdos e formas de marketilização de informação. Isso deixa o usuário/consumidor mais exigente para a aquisição, síntese e troca de informações(Jenkins, H.).

O ativismo transmídiático expressa formas de resistência social em suas ações coletivas. Com esse paradigma, a pesquisadora Scherer-Warren argumenta que “A sociedade civil organizada do novo milênio tende a ser uma sociedade de redes organizacionais, de redes interorganizacionais e de redes de movimentos e de formação de parcerias entre as esferas públicas, privadas e estatais, criando novos espaços de governança com o crescimento da participação cidadã”

Mais uma vez o espaço digital se confunde com o espaço palpável, ou seja, a presença desse indivíduos e as suas causas. Assim a autora estabelece ações para argumentar este fenômeno:

1 – Contestatória: Que são, no julgamento de determinada parte, os exposição dos pontos problemáticos e a oposição às crenças que os desfavoreçam.

2 – Solidária: Coesão do grupo; Trabalho em parceria e valorização da causa.

3 – Propositiva: Implementação do projeto de mudança social.

convergencia-midias

“O uso dos celulares no ativismo transmídia aponta para o surgimento de novas formas de monitoramento, instalando-se uma espécie de sistema de contra-vigilância: uma mistura de libertação e vigilância”. Assim discorre Gregolin para explicar a passagem do “nomandismo à transformação social” vivenciadas por grupos que usam o celular e a internet como plataforma de reorganização social.

Exemplos como no Egito, em 2011, que após e disseminação de informações sobre a politica interna por parte de ativistas que usaram a internet para expor um regime ditatorial, levando o então ditador Mubarak a baixar um decreto suspendendo a conexão para os cidadão locais. Parecido a isso, próximo dali, na Síria, o governo limitou a conexão baixando o tráfego de dados, impedindo o compartilhamento de fotos e vídeos da cena de caos, como o assassinato do ativista Basil Al-Saye em plena gravação de um vídeo.

Adquirir algum tipo de senso crítico e manuseio dessa novas ferramentas digitais ainda é uma saída relativamente tímida, entretanto arrojada, que tenta combater o super poder de grandes organizações como Estados e meios de comunicação de massa. O questionamento de aspectos problemáticos da cultura é algo instintivo e agora, com novas tecnologias, acessível a qualquer pessoa minimamente inserida num contexto digital.

 

Do ciberespaço para as ruas – A Revolta do Busão

No dia 28 de agosto do ano de 2012, a prefeitura de Natal (RN) anunciou um aumento na passagem de ônibus, acrescentando em R$0,20 à cobrança que até então tratava-se de apenas R$2,20. Como consequência dessa ação, os usuários do município que utilizavam tal meio de transporte demonstraram uma reação de indignação. As pessoas não aceitaram a mudança imposta pela prefeitura, e como forma de oposição, criou-se um movimento manifestante que ficou conhecido como “Revolta do Busão”.

Onibus bus

“Revolta do Busão”, como era mencionado o protesto através das hashtags nas redes da internet, tratou-se de um movimento organizado por meio de um grupo do Facebook para que a tarifa de ônibus retornasse à anterior. Revoltados com o acréscimo de cobrança, os manifestantes reuniram-se na web e debateram de que maneira o protesto prosseguiria. Através do grupo de Facebook, eles prepararam-se para saírem às ruas e lutarem pelos seus direitos.

Assim como proposto, os jovens partiram para as avenidas da cidade, onde fizeram passeatas e ocupações contra a ação do governo. Eles tomaram as ruas e com suas vozes unidas aos cartazes que carregavam frases provindas da própria comunidade da web, queixaram-se por dias, chegando até mesmo a enfrentarem uma repressão policial. O grupo protestou movido pela força crescente do movimento e mesmo com ações preventivas da prefeitura, como retirar o benefício de integração do meio de transporte, a revolta do povo venceu o governo desgastado ao qual encontrava-se próximo às eleições.

wpid-wp-1454447326210-591x350

Toda essa sedição em busca da reivindicação que levou centenas de pessoas às ruas aconteceu, ou ao menos teve um grande impacto, graças ao ciberespaço gerado através das redes sociais, neste caso em especial, o Facebook. Se não fosse a facilidade concebida pela rede em que uma pessoa pode emitir sua opinião sem restrições, podendo ser atendida por outrem não importando onde esteja, talvez este movimento não tivesse a mesma força que teve. O espaço da web tornou-se uma circunstância aos acontecimentos que se sucederam.

A liberdade de expressão da cibercultura em conjunto com a facilidade na união de pessoas através do espaço digital fez com que o evento se efetivasse da forma satisfatória ao qual acontecera. O comportamento da cultura digital neste viés ciberativista que vem crescendo foi crucial no protesto contra o aumento da passagem de ônibus. A “Revolta do Busão” provou-se mais um reflexo de como as práticas na web em defesa de causas pode vir a ter resultados vitoriosos.

a-nova-realidade-humana-mundo-virtual-505cbbadb6637.jpg

Por meio da troca de dados na rede de computadores, jovens mais uma vez reuniram-se por um mesmo objetivo e foram capazes de mudar uma imposição do governo. A cibercultura trouxe novos aspectos do ativismo político, abrindo oportunidades por meio do ciberespaço, fazendo do ciberativismo algo mais do que apenas um movimento preso à web, como ainda é visto por alguns. No mundo digital cria-se um instrumento de mobilização às causas, então com a presença física nas ruas e as ocupações dos envolvidos, o movimento consuma-se, trazendo mudanças significativas ao mundo.

activism31

Na internet, a nova geração eleva sua voz sem medo. Neste mundo da comunicação democrática, as pessoas trocam ideias e deixam para trás a inibição que prende suas ideologias. Libertos, os jovens juntam-se e lutam por aquilo que acreditam ser uma revolução.

A cultura no espaço cibernético e os grupos de pressão social polarizados

O conceito de polarização ficou bem marcado no Brasil de dois anos para cá. A queda de um governo dito de esquerda e uma relativa onda conservadorista eclodiam no país do futuro. A ideia de algo que se separa, que se emancipa, e não somente se antagoniza a algo, também abarca a acepção geral do termo polarização, e isso é fruto da dinâmica natural que rege a cultura. Assim, na cibercultura, não seria diferente. Um constante movimento de separação e reagrupamento de tecnologias, signos, discursos e sentido de realidade, fazem da cultura no ciberespaço algo genuíno e legítimo.

Para explicar a cibercultura parte-se de um conceito triádico:

  • A polarização, no sentido de separação – o território de onde a mensagem é emitida(antes na sua majoritariedade conferida apenas aos meios industriais de comunicação, privado ou público) passa a ser misto, livre, sem fronteiras.
  • A conexão que é dada por via de rede numa ideia quase sináptica, na qual a velocidade rompe o espaço-tempo, como na ideia de “Aldeia Global” proposta por Mcluhan.
  • A recombinação, nas mais diversas relações de tecnologias e processos cognitivos, que gera novos códigos, canais, cujo conceito de paradoxo estruturante derivado da ideia de semiosfera de Lotman, semiótico da cultura, emblema adequadamente essa Gestalt.

Na sua história recente, a cibercultura pode ver ascensão do pensamento e dos devires das massas sem a participação cabal de um emissor autorizado ou um interlocutor eleito. Isso só possível devido ao processo de “redeficação”, que pode ser analogável a uma cascata de dados, informações, narrativas, ou seja impulsos comunicacionais que atingem diretamente o todo de forma instantânea.

Entretanto, como fala André Lemos em seu artigo “Cibercultura e espaço recombinante”, a cibercultura, como se idealiza na prática, é artigo possível em regimes liberais-democrático. Em países altamente vigiados ou regimes totalitários, a natureza do comunicar-se – usando dispositivos móveis ou internet nas suas variações – pode não dispor da substância necessária: a liberdade. A liberdade traz consigo o viés sempre aleatório, mais até do que o arbitrário. Essa recombinação é um fator primaz para fugir-se da entropia.

Nesses países de regime político fechado, os usuários dessa cultura cibernética tendem a enveredar-se em práticas clandestinas para atuar politicamente nas redes. Um exemplo disso é a cultura hack ou hackeativismo. Esses usuários, por vezes autodidatas em tecnologia soft e hard, irrompem a legalidade e partem para práticas de desobediência eletrônica, atacando instâncias do poder e, de certa forma, emitindo uma mensagem, uma ideologia, uma causa, mesmo por via do caos.

self ativismo

Assim a contra cultura, para Castells, é peça chave na formação e implementação da cibercultura. Ele descreve quatro camadas do funcionamento da máquina cultural digital:

  • Elite científica que almeja inserir cada vez mais a tecnologia – tecnomeritocracia
  • Hackeativismo – cultura hacker também produtora de inovações tecnológicas
  • Comunidade virtual – cultura comunitária e cidadã(ativista)
  • Empreendedorismo – cibereconomia

Ao passo que a big-science acaba colhendo os louros do altruísmo e retidão, o próprio Castells fala de uma supremacia científica e seus interesses. Aqui a associação mais auspiciosa a ser feita para explicar o ciberativismo é o diálogo da cultura hacker(contra cultura) com a cultura virtual massiva. Os hackers, muitas vezes, são enquadrados como ciberescória ou criminosos, entretanto, não se pode ser inocente em relação à indústria digital. Consigo, Castells traz um confronto entre informação e informacionalização.

Enquanto que, muito do ímpeto hacker consiste em tensionar, desvelar, revelar, mesmo que com o caos, alguma dada realidade ou mobilizar grupos temáticos em prol de um ideal, as indústrias tentam narcotizar, apegadas apenas à performance, presas numa função fática, mercantilizando essa commodities, o informacionalismo. É nesse lugar de fala que muitos movimentos sociais ou “grupos de pressão” – como postulou Umberto Eco refletindo sobre o papel dos mass media – tomam para si o direito de reivindicar suas demandas, fazendo oposição ao poder governamental.

É nessa toada de emancipação, na polarização e na contra cultura que a cultura cibernética tem os seus alicerces fincados. A desapropriação do conhecimento de uma elite científica vem junto ao conceito cibercultura, e a apropriação de novas tendências a se recombinarem é algo saudável que dinamiza essa experiência de cultura. Uma cultura altamente colaborativa se insere nessa realidade digital, tanto em produção de tecnologia alternativa, como em produção de cultura – memória!