As novas tecnologias de comunicação e da informação têm mudado o caráter de ação dos movimentos sociais como um todo desde o bum da internet ainda nos anos de 1990. As NTICs(Novas Tecnologias da Informação e das Comunicações) não somente atribuíram mudanças aos movimentos ativistas, mas, de modo geral, também revolucionaram toda a forma de comunicação institucional e de comunidades que agora usam os territórios digitais como espaço de deliberação de seus pensamentos e sua doutrina.
Hoje, então, a internet se expressa como espaço democrático, onde as discussões ocorrem de forma livre e vasta, como aponta o teórico LangMan(2005). Em contraponto a isso, o autor aponta uma descentralização desses espaços, o que acarreta num relativo descontrole desses atores da militância no ciberespaço. Esse descontrole pode ser sentido, atualmente, numa onda de radicalismo e extremos, discussões que não levam a consenso algum e clima de destemperança nas redes.
Segundo o sociólogo Vinicius Wu, em artigo publicado no site Sul21, há um clima de “paixão e convicção” na rede. Ali, ele reflete, formam-se conglomerados opinativos incongruentes, nos quais o diálogo entre em escassez e o consenso não se estabelece. A prevalecência do contraditório não acontece, o que impede que haja um debate. Esse radicalismo por parte dos movimentos sociais na internet acaba gerando um efeito colateral que ainda é pouco conhecido, mas que vem sendo estudado e analisado: A ação dos algoritmos na seleção de conteúdo oferecido a cada usuário a partir de rastros digitais e modelação de um perfil identitário/psicológico destes usuários.
Algoritmos atuando como editores de conteúdo na rede
Uma miríade de informação é gerada a cada hora na internet. Estima-se que 2,5 quintilhões de bytes de informação circulem por dia na internet. Equacionando essa carga de informação ao tempo que os usuários têm para consumí-las, nota-se que é impossível sorver e absorver toda essa informação diária. A desculpa para a atuação dos algoritmos como fator de seleção customizada de informação para os usuários é alegação de que os mesmo não gozam de tempo para tanto volume de informação, o que leva a função algorítmica a selecionar conteúdo sob medida para cada indivíduo.
Sendo assim, a ideia de um filtro/válvula digital que possa indicar um determinado conteúdo a cada usuário traz consigo uma problemática: esse conteúdo acaba oferecendo uma variedade ínfima de informações a cada indivíduo. Isso, atrelado à falta de tempo de cada usuário, ceifa dele a possibilidade de argumentação sobre as discussões vigentes na sociedade e, segundo Vinicius, esse atores acabam por ser “especialistas em seu próprio discurso”.
Essa escassez de variedade de conteúdo gera um efeito nos usuários da rede similar ao efeito gerado pelo espectador de TV. Ou seja, atores passivos num processo deliberativo, que somente repetem um discurso pré-pronto e não dominam uma síntese sobre os pontos tangíveis de cada bandeira das quais levanta. Além disso, os ânimos ficam acirrados em função dessa desinformação e perda de perspectiva da ideia contrastante que converge em cada debate na rede. Muitos usuários se escondem em um imperativo de visibilidade social e de lá emitem o máximo do seu ódio, aproveitando do espaço não físico para vertê-los num campo de batalha.
Essa animosidade escusa pelas mídias digitais torna o processo de deliberação no âmbito digital algo extremamente doloroso e repleto de conflitos. A função algorítmica acaba sendo mediadora dos interesses despolitizantes de um sistema que busca alienar os seres e assim, torná-los mais facilmente massa de manobra de um processo hegemônico liderado pela grande mídia, que vê a informação(?) como uma commodity altamente lucrativa e narcotizante.